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Cardiotoxicidade

Um estudo de coorte prospectivo (2 anos) [1], em trabalhadores chineses de fábricas de pesticidas, foram encontraradas associações entre doença arterial coronária e exposição a glifosato (OR (odds ratio), IC de 95%: 2,30, 1,075-4,92), excesso de peso ou índice de massa corporal ≥24 kg / m2 (1,135; -1.245), hiperlipidemia (2.085; 1.005-4.328) e consumo de álcool (9.755; 4.127-23.057). É de notar que o excesso de peso, hiperlipidemia e abuso de álcool (com OR mais elevado) são fatores de risco conhecidos e independentes para doença arterial coronária. Não foi encontrada associação entre doença arterial coronária e outros fatores de risco conhecidos, como diabetes e tabagismo . Os autores mediram também os níveis plasmáticos de glifosato dos trabalhadores e do seu principal metabolito, o AMPA. [2]

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No entanto, todas as comparações foram feitas entre um grupo de trabalhadores expostos (diretamente envolvidos em linhas de produção de glifosato) e um grupo controlo de trabalhadores teoricamente não expostos que não estavam diretamente envolvidos na produção. Os autores não esclarecem o porquê de não aproveitarem os níveis plasmáticos de glifosato para distinguir entre trabalhadores expostos e não expostos, e/ou para analisar os dados de acordo com os estratos de nível de exposição. É de relembrar que, ambos os grupos são expostos aos resíduos de glifosto (e AMPA) através da ingestão de alimentos e esta exposição dietética é um dos principais contribuintes para exposições crónicas e, portanto, pode ser particularmente relevante para o desenvolvimento de doença arterial coronária. A falta de uma avaliação quantitativa e confiável da exposição é uma grande lacuna da maioria dos estudos epidemiológicos que investigaram associações entre glifosato e problemas de saúde. Outra grande fraqueza do estudo é a duração relativamente curta do estudo (2 anos) para fazer qualquer inferência nas relações de causa e efeito, isto é, entre glifosato e doenças crónicas. Os fatores de risco para o desenvolvimento de doenças crónicas e progressivas provavelmente atuam muito mais cedo na história de vida individual do que nos dois anos precedentes seguidos por este estudo de coorte. [2]

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Este estudo [1] é o primeiro relato que sugere que a exposição ao glifosato pode ser um fator de risco para doenças coronárias. Estudos prévios sobre toxicidade cardiovascular de herbicidas baseados em glifosato descreveram efeitos a curto prazo no coração, como arritmias e prolongamento QTc, em casos de intoxicação intencional (tentativa de suicídio) ou acidental com produtos formulados. Estudos experimentais e relatórios clínicos, no entanto, demonstraram que os efeitos pulmonares e cardíacos observados na intoxicação aguda resultam de ingredientes de diferentes formulações de glifosato (isto é, o surfactante Polioxietilenamida (POEA) usado na maioria das formulações herbicidas baseadas em glifosato). [2]

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